quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O que o Kadafi nos ensina

Hoje foi anunciada a morte de Muamar Kadafi. As fotos que circulam na internet mostram um corpo machucado, sujo e morto sem as pompas que outrora ostentou. Por mais de 40 governou a Líbia sob um estado totalitário e nesse período acumulou uma fortuna inimaginável, amigos poderosos e extravagâncias que beiravam a loucura. Parece que essa história é meio clichê quando falamos de ditadores. Recentemente tivemos o final de vida pouco glorioso de Saddan Hussein que se escondia num buraco e fora condenado ao enforcamento pelos crimes de sua ditadura. Final trágico também foi o de Benito Mussolini, que ostentava suas avantajadas bochechas, seu olhar sempre de cima, uma farda impecável negra e seus trejeitos pitorescos que fizeram escola, levou a Itália a uma guerra que não podia ao lado de um aliado tão ou mais megalomaníaco e foi responsável pela morte de milhões de civis, morreu pelas mãos do próprio povo que antes o aplaudira e seu corpo pendurado pelos pés em praça pública para execração. Relatos dizem que seu egocentrismo era tão grande que pediu para que atirassem em seu peito, para não deformarem sua figura.

Em todos os casos esses ditadores possuíam uma quantia tão grande de dinheiro que se quisessem poderiam no meio da história terem fugido e terminar em o resto de suas vidas usufruindo de conforto que a riqueza pode fornecer. Quantas chances Kadafi teve de renunciar quando a revolta ainda não tinha ganho apoio das nações poderosas? Todos sabem que ele era amigo pessoal de Berlusconi e não seria difícil ter conseguido exilo político na Itália e ter prosseguido sua vida praticando seus "Unga Bungas" livremente. Mas existe algo que tem muito mais poder de atração ao ser humano, sobrepondo fortuna, mulheres e conforto – o poder – e esses caras experimentaram o sabor deste poder em doses cavalares e preferiram morrer do que aceitar a perda dele. Nos filmes "Os bons companheiros" de Martin Scorsese têm uma cena que ilustra muito bem isso, quem assistiu sabe do que estou falando, num momento em que o narrado da história (que era gangster), chega com uma mulher em uma boate lotada e consegue entrar pela cozinha do local e o arrumam uma mesa em frente ao palco que haveria um concorrido show. Quando se tem um título de líder, de qualquer categoria, desde dono de boca até presidente dos EUA, há muitos bajuladores, mulheres, ofertas e poder e isso faz com que o sujeito comece acreditar que ele é realmente fodão, começam aí as excentricidades, o culto a si mesmo e a defesa a qualquer custa daquele posto.

Mas que porra isso tem haver com o Palmeiras?

Tem muita coisa, pois há muito cara lá dentro que já teve sua oportunidade de comandar, fracassou, mas não admite ser excluído das decisões. Quando nós torcedores pedimos união e abdicação dos anseios pessoais, para o bem do time, não temos idéia de o quão isso é impossível na mente desses doentes. É evidente que a instituição Palmeiras está agonizando, clamando por renovação, por trégua, por abdicação, mesmo os dirigentes em seu lado racional reconhecem que as coisas passaram do limite e que algo tem que mudar, mas qualquer movimento no sentido em tirar ou distribuir o poder é refutado com veemência. Vejam que coisa mais patética que é essa história de conselheiro vitalício, o que leva um senhor de mais de 80 anos ainda querer dar ordens no futebol? O Mustafá talvez seja o ícone maior dessa doença, ele já foi presidente por mais de 10 anos, não conseguiu nada que presta, é odiado pela torcida, tem dinheiro para viver de outra coisa, mas insiste em tomar o poder para si novamente. Tudo em suas devidas proporções e algo que aconteceu em um país não pode ser comparado com exatidão ao que aconteceria em uma clube, mas está na hora desses caras pegarem o exemplo do Kadafi e cai na real que a paixão extrema pelo poder jamais acaba bem, nesse caso para o torcedor, para o Palmeiras e talvez para os próprios políticos.

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