quarta-feira, 1 de junho de 2011

Salvação das almas


A presença de times tradicionais da América do Sul, como Peñarol, Velez Sarsfield, Cerro Porteño e o próprio Santos, nas semi-finais de libertadores é algo que me deixa muito feliz, principalmente pelo time Uruguaio. O Peñarol é um dos times com maior número e conquistas em Libertadores da América e os uruguaios são fanáticos por futebol, tanto quanto ou mais que argentinos e brasileiros. 
Mas o que me de deixa mais feliz ainda é constatar que a despeito do marketing e de grandes receitas, esses times sulamericanos praticam e curtem o futebol, e é ele o meio e o fim.
Nos últimos anos no Brasil as receitas dos clubes têm aumentado exponencialmente e conseqüentemente os salários de jogadores e comissão técnica já se equiparam a times europeus. Qualquer jogador medíocre tem rendimentos de mais de R$100 mil por mês em um clube grande. Nos jornais e programas esportivos hoje se discute mais números e estratégia de marketing do que o futebol em si, termos antes exclusivos de grandes corporações são vulgarizados em discussões futebolísticas. É o padrão europeu que o Brasil almejou e está alcançando. Nossa seleção virou um produto de exportação, a cidade em que a seleção mais se apresenta é Londres, pois isso rende muito mais dinheiro a CBF do que jogar no Maracanã. Nossa marca é vendida como "o país do futebol" - Mas o que tudo isso tem rendido em dividendos ao torcedor brasileiro? Um futebol sem alma, refém de empresários e pseudo talentos. Veja o caso do Ganso do Santos, fez uma grande temporada e hoje põe a faca na garganta do clube exigindo mais salário e a redução da multa para ir para Europa.
Vamos então a Europa pegar o exemplo da nossa "fonte de inspiração". O futebol ficou tão caro e inviável que antigas equipes tradicionais hoje amargam o ostracismo. Na Inglaterra, berço do futebol e posteriormente do futebol "profissional", as principais equipes foram vendidas a milionários aventureiros e as que não foram seguem como coadjuvantes. Todo aquele belo cenário esconde a decadência dos clubes médios e a hegemonia de 4 equipes, que agora viraram 3 com a quase falência do Liverpool. O futebol inglês virou passeio turístico e lavanderia de dinheiro e sobrevive graças a paixão do inglês por futebol. O Chelsea que detêm milhões de fãs espalhados pelo mundo graças aos altos investimentos do mafioso russo Roman Abramovich, dentro da Inglaterra é pouco popular, menor em Londres até do que o Tottenham. No futebol italiano, que em determinada época abrigou os maiores craques do mundo, a coisa ainda é pior, tendo sobrevivido financeiramente apenas os times tradicionais do norte da Itália, como Milan e Internazionale, exemplo parecido com a Espanha em que Barcelona e Real terminam campeonatos com dezenas de pontos acima do segundo bloco. Parece que o destino do futebol europeu é semelhante ao da Fórmula 1, virar um campeonato de marcas.
Voltando ao exemplo sulamericano, hoje li que o salário mensal do Neymar banca a folha de pagamento inteiro do Cerro Porteño, adversário dessa noite – e porque será que isso não refletiu em uma goleada santista no Pacaembú. O Brasil teve 6 representantes na Libertadores deste ano, todos muito ricos e com altíssimas folhas de pagamentos se comparados aos demais times da America, porem dentre os 4 semifinalistas só chegou o Santos! E olha que quase fica de fora na primeira fase. Onde refletiu toda essa superioridade financeira em cima dos nossos hermanos?
Por isso estou torcendo por times como o Peñarol, Velez e Cerro, não apenas por rivalidade, mas como um bem para o futebol, para mostrar que futebol se ganha na bola e não em balancetes. O Brasil por muitos anos revelou os melhores jogadores do mundo, sem ter estratégias profissionais de marketing ou sequer rios de dinheiro. Para qual lado queremos seguir?

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