quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

This is The End

Essa é uma época do ano no futebol em que não há muito que se comentar, porque também não há futebol, apenas uma série de especulações sobre contratações, patrocínios, parecerias, etc. Por este motivo este também é meu último texto do ano. Há os que gostam dessa temporada e acompanham atentamente a montagem do time para o próximo ano, confesso que me informo todos os dias, mas já fui de gostar mais. O que tem me impressionado muito, e não é de hoje, são os valores que envolvem essas negociações hoje em dia e isso não só no Brasil, e pior ainda, números absurdos para jogadores abaixo do medíocre. Eu acho que em pouco tempo o futebol vai se tornar impagável, que obrigará uma mudança drástica no comportamento financeiros dos clubes e conseqüentemente dos jogadores. Há uma bolha imensa que não tem mais para onde crescer e o nível do futebol tem caído na inversa proporção que essa infla.
No futebol europeu, por exemplo, há uma epidemia de times sendo vendidos para milionários excêntricos que os usam ou como um brinquedo ou como uma grande máquina de lavar dinheiro. Isso ocorre porque o processo inflacionário por lá se iniciou muito antes do Brasil, junto com uma praga chamada marketing esportivo. Times menos poderosos que não conseguiram acompanhar essa nova realidade perderam condições de se manter sozinhos, sendo alvo fácil desses aventureiros, a coisa agora começa chegar até em times de porte com situação financeira complicada. Os números que envolvem a transferência de atletas medianos entre times europeus chegam ao irreal, valores que antes só fazia parte do mundo dos negócios. O Manchester City por exemplo, que tem como dono um sheik árabe, gastou só com salários nesta temporada o equivalente a R$500 milhões, isso tudo para ser eliminado da Liga dos Campeões dando lugar ao Napoli (chupa!). As dívidas de clubes como Reais Madri e Barcelona assustariam até o Eike Batista, mas há quem diga: Mas esses clubes têm dinheiro para pagá-la! Tudo isso é calculado e as receitas do marketing cobrem. Ok! Mas quando essas "receitas de marketing" não cobrirem mais todos esses custos, principalmente em um momento em que países como Espanha e Itália estão no olho do furacão de uma crise européia? Será que estes clubes se manterão como ilhas alheias aos efeitos da recessão? Já há um movimento na UEFA no sentido de delimitar os gastos das equipes, o chamado fair play econômico. O mais interessante é que mesmo todo esse dinheiro não garante boas equipes, o Milan, por exemplo, tradicionalmente o time que mais investe na Itália, tem um elenco pífio, formado por uma legião de jogadores velhos ou promessas que não se concretizaram (Pato, Robinho...). Atualmente o líder da competição é a Juventus com um elenco muito mais barato.
Com a saturação do principal mercado europeu essa bolha agora se desloca para os mercados emergentes do futebol, como Japão, os países do leste europeu, Arábia e agora o Brasil, que até então é o principal exportador de jogadores, mas começa reverter o quadro pagando mais por jogadores medíocres que qualquer outro time do mundo está disposto a pagar. Os dirigentes e empresários por aqui estão eufóricos pela grana que começa circular no meio do futebol e ainda tem a copa do mundo como mote desse "milagre econômico".  As cotas de TV, valores de patrocínio e investimento de grandes grupos no futebol cresceram absurdamente em todos os times nos últimos anos e conseqüentemente qualquer atleta e empresário hoje se acha digno de uma fortuna a cada negociação. O país tem sido um ótimo local para jogadores consagrados em fim de carreira ou "quase craques" de outros países da América do Sul vir ganhar dinheiro. Os jovens talentos que não são negociados no útero da mãe, na primeira oportunidade são fatiados e leiloados entre os times brasileiros, que rastejam implorando para que eles aceitem sua oferta.
Essa nova realidade ainda me assusta, mas assusta ainda mais – apavora - quando vejo que o Avaí está pedindo mais de R$7 milhões pelo Willian Batoré. Se ele ainda fosse um jovem que teve uma má fase no Santos e se recuperou no Avaí, tentaríamos entender, mas o cara já rodou o Brasil inteiro e nunca se consagrou e quando foi artilheiro em um time rebaixado, pedem o mesmo preço pelo qual o Palmeiras vendeu o Kleber. Nessas horas eu me lembro daquela música do Marvin Gaye – What's going on! O nível do futebol brasileiro está tão baixo e a receita dos times aumentou tanto, que nos deparamos com bizarrices como esta. Nessa temporada de contratações, todos os times com desempenho pífios estão atrás dos mesmos jogadores e os empresários estão aproveitando para pedir preço de ouro por latão. A situação do Palmeiras é ainda pior, pois é explícito que o time está desesperado atrás de peças e a situação política do clube o torna alvo de malhação de toda imprensa, desse modo é normal que os jogadores peçam um $$$ adicional para acertar. Dizem que o Tardelli pede salário milionário, fora a rescisão com o Anzhi, que especulasse R$14 milhões, não estamos falando de Leandro Damião, falamos de Tardeli que só emplacou no Atlético/MG.  Ainda não da para saber o que tem de verdade ou mentira nas histórias, mas os números e nomes que surgem nos fazem pensar que estamos na merda. Há algum tempo atrás os times do interior abasteciam de bons jogadores os grandes clubes, hoje esses times estão falidos e cheio de refugos, ou então alugados para algum empresário expor sua mercadoria.
O investimento em base é cada vez mais caro e improdutivo, quando se colhe qualquer coisa que parece que presta, logo esse jogador trata de arrumar um bom empresário e forçar o clube a vendê-lo ou transformá-lo em milionário. Os clubes fazem centros de treinamentos, bons alojamentos, pagam escola, dentista, fisiologistas e vez ou outra conseguem revelar algum bom jogador, coisa que nunca acontece com o Palmeiras, que aparentemente também tem essa estrutura, mas por ali contamos no dedo revelações: Wagner Love, Wagner Love, Wagner Love...
A impressão que tenho é que apesar do aumento das receitas, o aumento das despesas cresce desproporcionalmente e os times com gestões mais incompetentes – caso do Palmeiras – sofrerão cada dia mais para sobreviver competitivo nesse meio. Já ouve aqui algo semelhante ao que acontece naqueles times europeus que citei acima, quando o Corinthians foi praticamente comprado pela MSI, não se sabe até hoje se esse contrato foi mesmo rescindido, mas não duvido que em algum tempo outros casos semelhantes apareçam. Aí sim seria o início do fim. Onde será que vai parar tudo isso?                        

  

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