quinta-feira, 13 de junho de 2013

Éramos todos melhores!

Ontem o dia foi de muita emoção para nós palmeirenses, todas as mídias tradicionais e palestrinas relembraram a conquista do Campeonato Paulista de 1993. Logicamente que para um jovem de hoje um Campeonato Paulista não é nada pois de lá para cá uma fixação absurda pela Libertadores acabou tirando o peso das disputas regionais. Portanto nem perderei meu tempo tentando explicar a relevância dessa conquista, até porque há por aí gente muito mais capaz que eu em fazer esse tipo de coisa. O que me espanta sempre é poder ver a emoção e o saudosismo com que o assunto é abordado pelos jogadores que participaram daquilo, pois convenhamos, são atletas com carreiras consagradas que vestiram camisa de seleção e demais clubes mundo afora. Edmundo, meu grande ídolo, era o mais emotivo, mas o brilho no olhar era visível nos olhos de Evair, Zinho, Tonhão e até mesmo (quem diria) de Luxemburgo. Posso estar sendo audacioso demais de querer adivinhar o que passa na cabeça de cada um, mas imagino que ao relembrar dessa época todos os personagens – elenco e torcida – pensam: Éramos todos melhores!

Apenas para contextualizar o mundo e o futebol eram muito diferentes há 20 anos atrás. Não havia internet ainda, consequentemente se você quisesse se reunir com seus amigos isso era feito na rua e era lá também que se jogava futebol ou tirava sarro dos amigos quando o time dele perdia ou coisa do gênero, hoje quase tudo foi substituído pelo virtual, raramente se vê garotos jogando bola nas ruas e até as tirações de onda são compartilhadas via redes sociais e na maioria originadas de gente que ganha dinheiro produzindo esse tipo de conteúdo. Também não havia os tais pay per view, portanto se o jogo não fosse o da TV, restava o sujeito duas alternativas, procurar uma rádio que estava transmitindo ou ir no estádio, quando o jogo do time dividia atenção com algum outro jogo mais importante como um clássico por exemplo, nem mesmo as rádios transmitiam. Parece um excesso de saudosismo mas esses fatores faziam com que as pessoas tivessem mais amigos no mundo real (vamos assim dizer) e se mobilizassem para acompanhar seu time nos estádios e também buscar informações. Lembro que eu por exemplo ia a jogos com grupo de 10 amigos só do bairro. Os estádios também não tinham muita frescura, cabiam o tanto de gente que foram feitos para caber, incluindo bandeiras, instrumentos, etc. Os preços eram bem mais baixos também, incomparavelmente mais baixos e a arquibancada era o setor com a vista privilegiada para o campo, vamos dizer que o bônus era de quem queria ver o jogo e não de quem poderia pagar mais caro por isso. Nos clássicos o estádio era dividido independente do mando, quando o Palmeiras por exemplo tomava gol do Corinthians era bem nítido a explosão do outro lado, já na situação contrária, enquanto você extravasava conseguia avistar a outra metade do estádio calada. Já no futebol em si, além do advento da internet e das televisões pagas, a própria lei Pelé alterou totalmente a relação de forças dentro do negócio e do relacionamento do jogador com time e torcida. O direito do passe que antes era do clube, passou a ser gradativamente de empresários e de grupos financeiros, sendo assim mesmo com contrato vigente o clube é total refém dos anseios do atleta e de seu empresário que invariavelmente visam lucro a curto prazo. Times do interior tradicionalmente formadores de atletas foram praticamente a falência e hoje vivem de vitrine para empresários. Ídolos são raros, quando ganham alguma identificação com a torcida logo fazem merda forçando negociação e perdem todo prestígio. Indubitavelmente jogadores e empresários enriqueceram muito com essa evolução, mas e os clubes e o futebol?

Voltando ao título de 93 logicamente aqueles atletas também almejavam dinheiro e fama do mesmo jeito que os de hoje e do mesmo jeito que qualquer um faria, apenas os meios eram um pouco diferentes. No elenco palmeirense eram quase todos atletas jovens, no auge de sua carreira, que buscavam sucesso e o Palmeiras e aquele título era o melhor caminho para isso. Edmundo por exemplo acabara de vir do Vasco e ganhou grande destaque e idolatria no Palmeiras, jogou muita bola, depois disso foi para o Flamengo num projeto audacioso que acabou dando água, teve ótima passagem no Vasco, mas o excesso de polêmicas impediu que ele pudesse ser o jogador que ele podia ser. Evair também teve boas passagens por outros clubes depois a exemplo de Zinho e Cezar Sapaio, mas sem dúvida idolatria e o futebol que tiveram no Palmeiras não se repetiu, quem não se lembra dos apelidos O Matador, Monstro do Parque Antártica ou do canto Olê, Olê, Olê, Zinho, Zinho. Edilson que tinha vindo do Guaraní, graças ao Palmeiras deslanchou e acabou virando ídolo no Corinthians. Roberto Carlos ainda era aquele garoto do interior, com jeitão de caipira que tinha uma velocidade e chute incrível, muito diferente do sujeito blasé que se tornou hoje. E enfim Vanderlei Luxemburgo que ainda vestia suas camisas bregas e seu cabelo quase Black Power, era conhecido pela boa campanha com o Bragantino e de uma hora para outra virou O Estrategista, como diria Avalone na clássica Mesa Redonda. Talvez todos esses personagens quando veem as imagens de 1993, apesar de montados na grana que estão hoje em dia e do sucesso que foram suas carreiras, pensam: Essa época eu era o melhor! E nós torcedores quando vemos aquele Morumbi lotado cheio de bandeiras e faixas, dividido meio a maio com outra torcida, sendo representados em campo por jogadores brilhantes e ansiosos de no dia seguinte encontrar o amigo rival na rua para tirar um barato da cara dele, também pensamos: Éramos melhores!

Confesso que toda vez que vejo as imagens de 1993 sinto uma saudade imensa daquele dia, não apenas pelo título e pelo time, mas pelo modo que era curtir o futebol. Talvez realmente éramos todos melhores.

2 comentários:

  1. Grande texto, grandes verdades!

    Tudo - ou quase - eram realmente melhores.

    Lembro das resenhas com os amigos após os jogos, a ansiedade antes dos embates e até a discussão sobre quem deveria ser convocado para a seleção, se o do nosso time ou o do rival.

    Enfim, saudades...

    Abraço do amigo

    Dinho Maniasi

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