terça-feira, 29 de maio de 2012

Se gritar pega ladrão


Essa semana mais uma vez o nome do futebol italiano foi à lama com mais um caso de corrupção, na verdade não sei se mais um ou mais do mesmo, pois em 2006 nas vésperas da Copa do Mundo (conquistada pela Itália), foi deflagrado o grande escândalo que culminou com o indiciamento de vários atletas e punição severa a vários clubes, incluído a Juventus que foi para terceira divisão.  Como diria o ditado: Miséria pouca é bobagem. A Itália, que eu tanto gosto por razões óbvias, vive uma fase terrível, com a crise financeira que a assola, desastres naturais atípicos e escândalos no esporte que os italianos mais gostam.

Mantenho esse blog para falar do Palmeiras e jamais foi diferente, mas peço licença para falar de outro assunto, pois me assustei com os comentários de alguns "comentaristas" (nego chamar de jornalista) brasileiros de futebol sobre o assunto. Alguns buscaram ressaltar que o país já é famoso pela máfia e que agora é o futebol, outro mais indignado, o Sr. Milton Neves, disse que a FIFA deveria confiscar dois títulos mundiais italianos, e por aí vai. Faço eu uma pergunta: Será que a corrupção só existe no futebol italiano ou só no futebol italiano que a polícia investiga e pune esse tipo de coisa?

Infelizmente tudo que envolve dinheiro e poder é um terreno fértil para corrupção e por fatores óbvios, não existe no código genético de um só povo a tendência à corrupção, ela nasce onde há estímulo, no caso do futebol há muito dinheiro envolvido e grande capacidade de manipulação das massas, devido toda paixão e popularidade que o envolve, que amplifica mais ainda o fator "poder". O paradoxo nisso é que apesar desse apelo popular o futebol não é do poder público e sim privado, formado por equipes privadas e administrado por federações privadas, que excluindo as atitudes que se caracterizam como crime contra o Estado, não deve satisfação alguma ao povo, somente a parceiros comerciais. Grande parte da sujeira no futebol fica numa fronteira tênue entre o imoral e o ilegal, por exemplo, ser pago para defender um jogador na imprensa é imoral, mas dificilmente será possível enquadrar isso como ilegal. Graças a essa peculiaridade o futebol atrai também outros setores inescrupulosos. Vamos aos exemplos:

Na Inglaterra, onde por questões geográficas, não é a terra dos italianos e nem dos brasileiros e sim dos ingleses, famosos pela sua educação e cultura, temos no futebol algumas situações imorais que talvez se investigadas fossem enquadradas como ilegais. A Scotlandard, digna do rótulo de melhor polícia do mundo, poderia sem muito esforço realizar um pente fino, mas será que não é conveniente para Inglaterra manter as coisas como estão? O futebol inglês saiu de uma eminente falência para uma quase atração turística milionária, que movimenta rios de dinheiro e traz receitas ao país. O Chelsea é propriedade do magnata russo Romam Abramovich, que em seu país de origem é considerado criminoso, por sonegação, tráfico de influência, enriquecimento ilícitos, etc. Muito provavelmente os milhões de libras que ele aplica no seu time de futebol é de origem suja, mas isso não é impedimento algum, pelo contrário, recentemente quando o Chelsea foi campeão da Copa dos Campeões alguns jornalistas até reconsideraram o caráter do mafioso. Além do Chelsea, o Manchester City, atual campeão inglês, também usufrui do dinheiro de seu dono, um sheik dos Emirados Árabes, irmão do presidente do país e magnata do petróleo. Enquanto no seu país, manifestantes antigoverno são presos e torturados, Mansour Bin Zayed usa os bilhões oriundos do petróleo para brincar de Manager de um time de futebol de verdade. Kia Joorabchian, famoso aqui no Brasil por ser testa de ferro do grupo MSI que investia dinheiro de origem obscura no Corinthians, atua livremente como empresário na Inglaterra, há quem diga que ainda há um laço fraterno entre ele e o Corinthians, que não é de se estranhar, afinal, ele não é da fiel? Casas de apostas na Inglaterra são extremamente comuns, em Londres tem pelo menos uma em cada bairro e os ingleses são viciados em aposta. Não seria o fim do mundo se surgisse no futebol inglês algum escândalo de manipulação de resultado.

No Brasil as apostas são oficialmente ilegais, mas isso não impede que os indícios de corrupção aqui sejam tão evidentes. Os interesses do futebol se misturam com interesses políticos, empresariais e de outros setores mais escusos. O ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e seu padrinho e ex-presidente da FIFA João Havelange possuem uma avalanche de denúncias dignas de um deputado federal. Já houve aqui vários escândalos envolvendo arbitragem que convenientemente não foram investigados a fundo, em 2005, por exemplo, o ex-árbitro Edilson Pereira revelou a Veja que recebia dinheiro para manipular resultados e apontou que havia outros árbitros que também recebiam. O esquema era bancado por sites de aposta, mas alguém pergunta: Apostas não são proibidas no Brasil? Sim, são proibidas, tal qual o jogo do bicho a venda indiscriminada de armas e o lança perfume. O então chefe de arbitragem mandou Edilson embora, mandou voltar os jogos apitados por ele e botou uma pedra no assunto. Mas e os outros? Só ele estava nessa? Esse foi só um capitulo de muitos outros de futebol brasileiro, já vimos resultados esquisitos em todos os campeonatos, sorteio manipulado de árbitros de futebol, erros recorrentes a favor e contra certos times, alteração de tabelas a torta e a direita pela emissora de TV (dona do futebol), jornalista pago para defender jogadores de empresário A ou B, jornalista que defende todos os jogos de grande apelo em determinado estádio de determinado time (leia Juca de hoje), técnicos donos de passe de jogadores, viradas de mesa, dinheiro público na construção de estádios privados, dirigentes que viraram vereadores ou deputados que hoje defendem o clube nas esferas políticas, são tantas coisas que atendem tantos interesses, que se a FIFA fosse seguir a orientação ridícula do Sr. Milton Neves, o Brasil teria os cinco títulos mundiais devolvidos – ops – a taça Jules Rimet não poderá ser devolvida, pois foi roubada e destruída.

Também me espanta a corrupção do futebol italiano, mas gostaria que a mídia brasileira ao invés de apontar com deboche a desgraça alheia, se inspirasse a exigir que investigações do gênero ocorressem aqui. Porém já dizia a canção: Se gritar "pega ladrão!" não fica um mermão! 

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