sexta-feira, 1 de junho de 2012

Saudoso Palestra

Confesso ser um sujeito demasiadamente saudosista e tenho muito orgulho disso, só tem saudade quem tem história, quem tem do que sentir saudade. Acredito que com o passar do tempo à medida que vamos acumulando histórias, os bons momentos do passado se tornam a verdadeira referência de felicidade, por exemplo, se me fosse concedido a escolha de qualquer lugar como "o paraíso", não optaria pela referência católica daquele belo lugar de natureza bucólica, ou nem mesmo as dez virgens prometidas aos islâmicos, seria apenas eu reviver meu passado consciente do valor das coisas que me cercavam.

Hoje passei em frente ao Palestra Itália e passar lá em frente para mim não é como passar em frente a um lugar qualquer, eu deixo de prestar atenção em qualquer pessoa ou qualquer pensamento para prestar reverências àquele local. Talvez pelo fato de eu ser de Santo André, não passar em frente regularmente e de nunca ter sido sócio e encarado aquilo como um clube, não sei, só sei que é diferente. Não pude deixar de reparar na grande obra que lá está sendo feita, dos imponentes prédios, da estrutura das novas arquibancadas e dos grandes guindastes que trabalham a todo vapor, com um pouco de imaginação já da para ver ali o esqueleto da arena que a maquete mostra, moderna e alinhada aos novos conceitos multiuso. Resistindo ao vendaval de mudança ainda está lá parte da arquibancada, que só foi mantida para não descaracterizar a obra de "reforma", como manda o alvará, para "construção", algo que gera a revolta de muitos palmeirenses contra o nefasto Kassab. Mas embora o estorvo que aquilo deva causar à construtora, confesso que a mim me fez feliz, me trouxe boas lembranças. O pedaço de arquibancada antiga é aquela da entrada da Francisco Matarazzo e ainda é possível ler as inscrições em verde "Sociedade Esportiva Palmeiras". Como não me lembrar da primeira vez que fui assistir um jogo no Palestra Itália ainda pequeno, junto com meu pai em 90, quando a primeira coisa que chamou minha atenção logo após passar os portões de entrada, foi aquela inscrição. Era um Palmeiras e Cruzeiro em que o Palmeiras venceu, não me lembro muito dos detalhes do jogo, eu tinha 10 anos, lembro que o Palmeiras ganhou por 3 x 2 e foi um jogo disputado pra caramba. Meu pai naquela noite ficou super feliz, sempre é bom levar o filho a um jogo que o time ganha, principalmente porque o Palmeiras vivia um jejum terrível de títulos. Só hoje percebo que aquilo já era minha escola de Palmeiras, não era comemoração de campeonato, era celebrar o renascimento da esperança com uma vitória e assim foi na década de 80 e assim é na atual. Só em 1993 foi ver o Palmeiras ser campeão, mas aí no Morumbi, também junto de meu pai.

Depois disso fui muitas vezes a jogos no Palestra Itália com meus amigos. Naquela época o trem que vem de Santo André não parava no Brás, ele ia direto até Francisco Morato, no meu caso eu parava na Barra Funda. Saíamos no domingo logo após o almoço, às vezes com as camisas escondidas quando tinha risco de encontrar alguma organizada rival no trem, até porque eu e meus amigos nunca fomos de briga (e nem aguentaríamos muita coisa com 14 anos). Chegando na Barra Funda já encontrávamos aquele monte de palmeirenses vindos de todos cantos de São Paulo e todos rumo ao Palestra Itália via Francisco Matarazzo. Não tinha nada de ingresso antecipado, era aquela muvuca nas bilheterias e preço de R$10,00. Ingressos comprados era hora de fazer àquele tempo, comer alguma coisa lá em frente esperando o momento certo de entrar. O cheiro do pernil ou da calabresa invadia o ar, sempre foram os lanches preferidos do torcedor, eu preferia comer um hot-dog. O dinheiro era contado, as vezes eu precisava pedir algum emprestado para algum amigo se quisesse comer mais alguma coisa e vice-versa. Comíamos de gosto enquanto conversávamos sobre futebol, sobre os cantos da torcida, sobre bandeiras, sobre alguma possível contratação ou até mesmo sobre os assuntos do nosso bairro. Tão logo abrisse o portão e víssemos a galera entrando, já seguíamos em direção ao portão principal e passávamos pelo mesmo ritual, entrega do ingresso, revista da polícia e depois de liberado a adrenalina já estava lá em cima na expectativa pelo jogo. Enquanto entrávamos pelo fosso do Palestra, já dava para ouvir os primeiros torcedores gritando alguma coisa da arquibancada, que aumentava ainda mais a ansiedade pelo início do jogo. Quando o Palmeiras ganhava a saída era cantando e quando perdia comentando com os outros palmeirenses os erros do jogador, do técnico ou xingando o juiz. Seguíamos a mesma marcha à estação Barra Funda, tomávamos o mesmo trem no sentido oposto, depois cada um em sua casa assistiría algum programa esportivo e o domingo acabava assim.

Com o passar dos tempos as coisas foram mudando, comecei a ir de carro aos jogos, tomar cerveja antes de entrar no estádio, mas o clima se mantinha. Ao contrário de estádios como o Morumbi ou até mesmo o Pacaembu, onde mansões e vigias de rua os cercam, os arredores do estádio do Palmeiras é um caso a parte, sinto muito pelos torcedores rivais não saberem o que é isso, mas tudo ali em volta combina com futebol e com o Palmeiras. Os bares ficam cheios e bebe-se bem e come-se bem. Não estou falando de bares elitistas, com porras de comandas e que cobram o olho da cara por um chop, falo de bar, Bar.  Achei péssimo quando construíram o shopping Bourbon ao lado do estádio, gostava mais do velho shopping Matarazzo que era térreo e não destoava tanto da bela frente verde do Palestra Itália.

Pelo que pude ver hoje tudo vai mudar, a Arena Palestra Itália será sim muito bonita, mas não sei, parece que algo faltará. Pode ser mesquinho de minha parte querer que as coisas se conservem do jeito que estão gravadas em minha mente, sei que as novas gerações querem algo mais imponente, que demonstre grandeza, riqueza, mas não sei se nos sentiremos tão em casa como antes. Pode ser que com o tempo nos acostumemos com o novo estádio, como se acostuma com um sapato novo depois de algum tempo de uso, mas será inevitável sentir uma saudade enorme das coisas como eram toda vez que eu passar em frente.

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