Flash back

Dia 25 de janeiro de 2003 – Pacaembu - São Paulo. Após o primeiro rebaixamento da história do Palmeiras no Campeonato Brasileiro de 2002, o Palmeiras chegava a sua primeira final da Copa São Paulo de Juniores contra o Santo André. Estádio lotado, a torcida numa mistura de revolta e expectativa buscava resgatar o orgulho apostando na base como meio de recolocar o Palmeiras no seu lugar. Naquele tempo a torcida tinha um vilão, Mustafá representava o mal maior, o ditador que se apossou do Palmeiras e jogou o time a lama. No Palmeiras figuras como Vagner Love, Deola, Edmilson, Diego Souza, Francis, etc, no Santo André o já espalhafatoso Richarlyson e um atacante desconhecido chamado Nunes. Tudo corria bem, 2 x 0 para o Palmeiras e a torcida cantando a toda força, inclusive eu e meus amigos, quando o que parecia improvável aconteceu, o Santo André conseguiu empatar e levar a partida aos pênaltis. Já com o psicológico abalado o Palmeiras perdeu nas penalidades e alguns jogadores do Santo André começaram a provocar a torcida palmeirense, principalmente o tal Nunes, que imitou porco em frente a torcida que estava atrás do gol oposto ao tobogã – atual setor amarelo. Isso foi a fagulha suficiente para a torcida explodir em revolta, forçando as grades para derrubá-la e pegar quem estava provocando. Mais do que depressa os jogadores do Santo André correram ao vestiário e o confronto entre torcida e polícia ficou feio. Na parte de dentro policiais tentando conter a torcida e apanhando, na parte de fora estrondos de bombas de efeito moral, nuvem de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. Os carros estacionados na Praça Charles Miller todos estourados. No caminho do Pacaembu a Barra Funda muita destruição. Se esse fosse um país sério, Nunes e os outros jogadores do Santo André que participaram da provocação deveriam responder criminalmente por incitar toda essa violência, mas a vida seguiu.

O tempo passou. O Palmeiras retomou o lugar na série A mas os problemas não passaram, os torcedores descobriram que Mustafá não era o único mal, talvez um dos maiores, mas não o único. Nunes seguiu sua carreira medíocre em times pequenos, mas sempre que é possível, quando enfrenta o Palmeiras o sujeito quer aparecer, foi assim quando esteve no Santo André, Bragantino e agora no Botafogo de Ribeirão Preto, talvez seja uma tática para não passar desapercebido pelo futebol.  

Ontem mais uma vez estava o Palmeiras, mas agora o time de cima, depois de um rebaixamento, no mesmo Pacaembu, para jogar contra um time pequeno e do outro lado, na equipe adversária, o tal Nunes. Dessa vez o estádio vazio, apenas com 4 mil pessoas, o que é vergonhoso! Mas mesmo perante a toda essa situação, resistindo a tudo de mal, o Palmeiras ainda é o Palmeiras e sempre será.... e o Nunes.... é só o Nunes!

O jogo

O Palmeiras jogou muito bem, diferente das partidas anteriores. Como deu para se notar o Palmeiras melhora muito jogando com quatro volantes, apesar de muitos torcerem o nariz na escalação, o time ganha o meio-campo e em consequência também em volume de jogo. Lógico que esse esquema não é o mais bonito de se ver, mas para um time com limitações técnicas é bem eficiente. Outros pontos positivos ao meu ver foi a dupla Vilson e Henrique, ambos muito firmes e com qualidade na saída de bola, e a entrada de Leandro no lugar de Vinicius, que deu muito mais poder (e sorte) ao ataque. Kleber ainda não virou, me parece até que o time fica mais solto sem ele, ele tentou, se esforçou, mas ainda não tem sintonia com o resto do time. O Palmeiras venceu com muita facilidade e sem sustos. É uma pena que nem todo elenco está disponível para Libertadores. Agora temos o Santos em casa, no único clássico com mando do Palmeiras, eu vou, e creio que todos devam fazer um esforço em ir, pois uma renda como a de ontem não paga nem o salário do treinador.

Salários atrasados

Circula na mídia a notícia que o Palmeiras deve dois meses de salário aos jogadores, por aí já percebemos o tamanho do rombo e o porquê de muita coisa. A diretoria promete quitar as pendências até o final de abril, para não correr o risco de perder nenhum jogador na justiça, creio eu que o Grêmio ainda deva alguma quantia ao Palmeiras da transação com o Barcos e Paulo Nobre conta com essa grana para regularizar a situação. O certo é que a administração Tirone, que dizia estar acertando as dívidas do Beluzzo,  jogou o Palmeiras num buraco ainda maior comprometendo todas receitas futuras. É uma merda ver esse tipo de notícia sobre o Palmeiras, por outro lado ajuda o torcedor a entender – inclusive eu – que as coisas não são tão simples quanto as vezes parecem.

As coisas do jeito que elas são

Barcos ontem marcou mais um gol no Grêmio contra o pelotas, mas o destaque mesmo fica para Leandro que marcou dois pelo Palmeiras. Na verdade o jovem jogador que ainda é do Grêmio, se continuar nessa toada, voltará ao time gaúcho extremamente valorizado, um baita negócio para o Grêmio diga-se de passagem. Apesar de momentos distintos dos dois times, tudo isso mostra que o Palmeiras é o gigante da história, um time capaz de acabar com a carreira de um jogador ou elevá-lo ao topo do futebol. Barcos chegou desconhecido, se destacou no Palmeiras, chegou a seleção de seu país e hoje chegou ao Grêmio com status de ídolo, algo quase semelhante com que aconteceu com Kleber. Barcos ainda figura nos noticiários de São Paulo por ser ex-jogador do Palmeiras, mas para seleção de seu país não foi mais convocado, Kleber nem sequer ouvimos falar, virou mais um coadjuvante do futebol, de Gladiador ao ostracismo. Marcos Assunção, que saiu do Palmeiras para ganhar menos no Santos, foi outro que sumiu, antes era figura fácil em programas de esportes e capas de jornais, agora das vezes que o vi sendo entrevistado ainda é para falar da sua saída do Palmeiras. Ou seja, não é mania de grandeza, mas o Palmeiras ainda é muito grande e está no hall dos maiores do Brasil apesar dos anos amargos. Imaginem se fosse bem administrado.