terça-feira, 9 de abril de 2013

Jogos na altitude

Todos os anos sempre que há partidas de times brasileiros na altitude da Bolívia, Peru ou Equador surge a corrente dos "especialistas" exigindo que a FIFA ou a CONMEBOL proíba jogos nesses locais. São sempre os mesmos que nós já conhecemos muito bem. Eu discordo de muitos julgamentos da Confederação Sul-americana, inclusive o de convidar times Mexicanos para competição ao mesmo tempo que esses não têm o direito de representar o continente no Torneio Mundial, mas no caso dos jogos em atitude eu sou totalmente contra proibir e digo mais, uma medida assim seria uma espécie de segregação em um continente que não cabe esse tipo de coisa.
A Copa Libertadores da América, como o próprio nome sugere, tem o DNA da América Latina, homenageando aqueles que lutaram pela independência dos países do continente. Apesar de o Brasil ser o único país em que se fala outro idioma, nossa história e nossos problemas são muito semelhantes a dos nossos vizinhos, mas me parece que há sujeitos por aqui que acreditam que o Brasil não pertence a esse continente e teimam em querer comparar tudo com o Europa e com a Copa dos Campeões. Estão sempre repetindo: ahh os gramados europeus, ahhh o comportamento da torcida europeia, ahhh a organização da UEFA. Amigos... o que vocês querem? Que cidades pobres como as latino-americanas possuam arenas moderníssimas totalmente discrepantes da paisagem urbana? O futebol não é uma ilha dentro de um contexto social e quem quer participar de uma copa continental tem de aceitar sua realidade social e geográfica.
Quando ouço alguém pregando contra jogos na altitude chego a imaginar que a piração do sujeito é tanta que ele deseja no seu íntimo mudar até mesmo a paisagem do continente, ou então adotar medidas segregacionistas, excluído times de cidades muito acima da linha do mar. Tirando Santa Cruz de La Sierra, grande parte das principais cidades bolivianas estão incrustadas nos Andes, inclusive a capital La Paz, sendo assim é evidente que muitos times classificados para Libertadores pertencerão a estas cidades e não há lógica alguma forçar o time e sua torcida viajar centenas de quilômetros para jogar em cidades mais agradáveis aos pulmões dos brasileiros, seria como forçar os times do Rio de Janeiro jogarem longe do litoral. Acontece o mesmo com países como Equador e Perú, em que grande parte de seu território está bem acima da linha do mar. Desconheço notícia de algum jogador que tenha morrido ao jogar na altitude, na verdade já ouvi sobre jogador que morreu com raio, parada cardíaca, chocando-se com a trave, mas de falta de ar nunca, tampouco vi algum time ser campeão apenas pelo fator altitude, mas nossos nobres jornalistas reclamam que o futebol não pode ser jogado em alto nível, como se só o que valesse fosse as firulas e não a batalha em si. Para os seguidores de Juca Kfouri não é o futebol que tem de se adaptar ao cenário sul-americano e sim o cenário adaptar-se ao futebol, no imaginário dessas pessoas está uma Copa Libertadores jogada apenas em cidades planas, em belos estádios, com torcedores sentados e aplaudindo com cara de boçal a entrada majestosa dos times em campo sob um bonito hino patrocinado por uma cervejaria, ou então, que os times brasileiros sejam formalmente convidados a deixar a CONMEBOL e filiar-se a UEFA.
Está na hora de se aceitar a Libertadores do jeito que ela é, um torneio onde os desafios da diversidade social e geográfica são seu maior atrativo. Vamos parar com essa frescura de discutir altitude, gramado, estádio pequeno e o cacete a quatro, quem tem de ser campeão passará por cima de tudo isso. 

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